quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Votos de Ano Novo

E chegamos ao fim deste ano tão especial.

Até agora, nenhum dos que vivi se aparenta com este. É verdade que todos os anos nos trazem sombras e luzes, saúde e doença, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos. 

Mas nenhum ano nos tinha afastado assim de todos os amigos, de todos os familiares, de todos os vizinhos, como se cada um de nós fosse inimigo ou fosse traído por qualquer um deles.

Duros foram os dias em que me obriguei a ficar em casa para não me infetar do tal vírus. Dolorosos foram os momentos em que disse "não" a todos os encontros, mesmo quando havia gente a suspirar por um olhar e uma palavra amiga. Só o telefone ou o vídeo me restava para um pouco de calor humano.

Mas nem tudo podemos dizer que foi negativo!

- No meio da dor e do sofrimento de muitos, estou saudável!

- Nas crises de medo, continuo intimamente confiante!

- No meio do desemprego e da fome, não me faltou o pão de cada dia!

- Num ano de tantos desastres, mantenho-me em segurança.

- Num ano de tantas mortes, estou vivo!

GRAÇAS A DEUS, continuo a viver com alegria e a apreciar as belezas deste universo tão rico e a sentir-me unido a esta humanidade tão ansiosa por paz, pão, amor e união.


A todos os que me leem desejo um ANO NOVO DE 2021 cheio de saúde, bem estar pessoal e comunitário. E que Portugal trilhe caminhos luminosos a bem de todos.

As cores fortes de Manuel Cargaleiro nestes azulejos da capela da Misericórdia, na paróquia de S. Tomás de Aquino, em Lisboa, nos encham a vida de coragem e força, para nos sentirmos cada vez mais livres.

Pela cruz à LUZ!

António Henriques

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A vida mentirosa dos adultos

 Novo livro de Elena Ferrante


Desta vez, após ter lido elogios à riqueza literária de Elena Ferrante, decidi-me ir atrás das modas e adquirir “A vida mentirosa dos adultos”, uma novidade desta autora, que há vinte anos tem entusiasmado leitores e críticos com a sua escrita desenvolta a perscrutar o íntimo das suas personagens, preferentemente mulheres.

Sinceramente, este romance ocupou-me com agrado durante este mês de pandemia, em que a casa passou a ser o único lugar para todos os devaneios. As suas 300 páginas foram lidas quase à pressa, tal não era o gosto e a vontade de ver como se iriam desenvolver os dias desta adolescente napolitana, Giovanna, que corporiza o centro da ação como narradora participante a viver uma história cheia de ligações frágeis a outras personagens, também elas carregadas de vivências pessoais que enriquecem sobremaneira estas páginas.

Elena Ferrante é um pseudónimo de mulher ou homem italiano, de Nápoles, que ninguém conhece verdadeiramente, mas que desde 1991 tem produzido obras de ficção cheias de histórias que parecem reais. Em entrevistas escritas, a autora defende o seu anonimato como um meio para usufruir de inteira liberdade criativa e não fazer autocensura, escrevendo sem constrangimento pessoal as vivências mais íntimas ou mais cruas das personagens.

Em resumo, para não retirar novidade aos futuros leitores, a história acompanha a passagem de Giovanna - a protagonista - da adolescência para a vida adulta. Ao escutar os pais sem o conhecimento destes, ouve dizer que ela está a ficar feia como uma tia não falada em casa. Isto perturba-a a ponto de começar a olhar mais para o espelho e a querer saber da tal tia Vitória.

As amigas e o ambiente tranquilo da infância deixam de contar e surge a descoberta de um mundo novo com outras figuras do mundo suburbano, pobre e industrial de Nápoles, onde mora a tal tia Vitória, renegada pelo pai e que fora apagada das fotos de família (classe média-alta de professores).  

Abre-se à protagonista um mundo diferente, de relações promíscuas, pouco recomendáveis, mas acompanhadas de sentimentos humanos profundos. E ouve outras histórias que a levam a olhar para os pais com desapontamento, pois eles não eram assim tão puros e perfeitos.

Surgem assim experiências confusas, onde se debatem os comportamentos numa tensão entre o bom ou o mau, permitido ou inconveniente na sociedade, igual aos outros ou diferente. Descobre-se que a mentira mascara muitas vidas, o que leva a protagonista a buscar a sua verdade, usando também a mentira, tentando experimentar novas relações para construir a sua personalidade. Mas, no meio destas descobertas, há um desmoronar de convicções que levam ao desapontamento.

Que comentários posso fazer?

- Já li e aceito que nesta obra domina o mundo feminino, em que a mulher se mostra forte, corta a direito, rompe relações e domina os ambientes. Mas também se nota entre elas a concorrência, a luta, o domínio, o ciúme, ou a amizade e a colaboração desinteressada. E até sentimos a história envolvida em elementos físicos mágicos, como sejam certos espaços de encontro, as casas, as roupas, e ainda uma pulseira, capaz de exalar beleza e arrastar maldição para a sua utente.

- As personagens surgem tão reais que nos cativam a atenção, ora pela nobreza ora pela vileza de caráter, ora porque são solidárias ou porque se enchem de ódio, egoísmo, ciúmes; ao fim e ao cabo, todos estão manchados!

- O fim da adolescência é mesmo tormentoso. O carinho dos pais já não enche o coração da filha, pois ela descobre falsidades, vida tortuosa nos seus adultos e começa a isolar-se, a autonomizar-se, assumindo posturas imprevisíveis, desde o desleixo pessoal ao desprezo pela escola ou mesmo vida sem regras, em busca de um ideal de mulher muito pessoal.

- Atenção: cada página é uma mistura de narração, descrição e diálogo interior em que Giovanna se discute a si mesma de uma forma perfeita. Admiramos o texto, mas temos de ver a criatividade da autora por detrás de cada palavra, que uma adolescente não consegue falar e escrever assim…

- Esta “história” está marcada de atualidade. Casais que se descasam e continuam amigos uns dos outros, mulheres que acham normal que o amor que sentem por um homem casado é razão para o tirarem à vizinha, mas que, após a morte do homem, são capazes de se juntarem as duas para tratar dos filhos de uma…

- Finalmente, a protagonista vai-se desprendendo de pessoas, da família, dos amigos e de espaços e, no final, até da cidade se desprende. À procura de uma libertação? É o que todos queremos!

Últimas palavras do livro: «… prometemos uma à outra tornarmo-nos adultas como nunca acontecera com nenhuma».

 

António Henriques

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

As flores da minha rua

 Estamos em confinamento, não é?

Pois, no meio de todo o sofrimento que este estado de coisas nos provoca, eu sinto-me um privilegiado. Tenho uma casa grande e um quintal, onde me posso distrair com alguma liberdade. Durante uns meses, caminhava em casa e no quintal para fazer os meus 2km. Depois, escolhemos uma zona do Seixal, muito reservada, onde nos distraíamos com o ambiente, as águas, as belezas circundantes. Mas começámos a ver que mais gente começava a usar aquela plataforma para mudar de ambiente.

Com o crescer de regras para o confinamento, sobretudo o distanciamento social, eu resolvi aproveitar as duas ruas do bairro onde vivemos para fazer as minhas caminhadas. O silêncio raramente é perturbado; apenas os melros se ouvem. Movimento de carros, vejo um ou dois durante aquela meia hora. Pessoas, também muito raramente me cruzo com alguém...

Assim, comecei a olhar para as casas, as ruas, os gatos e a natureza circundante, flores e árvores. Às vezes, até dá para rezar o terço... Hoje, peguei no telemóvel e fui captando fotos das flores mais significativas. Nada de especial, é verdade, mas o suficiente para me distrair. 

Se quiserem, vejam. É o melhor que posso trazer para sacudir o vazio do nosso blogue.

António Henriques

domingo, 25 de outubro de 2020

Visita aos dinossauros

 

Apresento-vos hoje mais um vídeo da nossa escapada de poucos dias pela zona do Oeste, em que, por imperativos da pandemia, privilegiámos a visita dos ambientes menos povoados. 

É o caso do DinoParque, perto da Lourinhã, onde num dia de semana não havia mais de 20 pessoas durante as horas em que por lá nos fomos distraindo. 

Este é um empreendimento de vulto, que nos faz olhar com espanto para aqueles 180 modelos em tamanho real, onde a variedade e grandiosidade das figuras não são nada iguais ao que no Museu da Lourinhã já tínhamos visto. Soubemos que só na Alemanha é que há outro igual ou maior.

Passeando por aquele pinhal sem fim, pudemos visitar períodos da terra muito antigos, com nomes esquisitos e sobretudo com uma povoação de seres que até metem medo! É a variedade, é o volume de alguns bichos, são as formas mais esquisitas, são ainda as cores abundantes daqueles dinossauros, muitos motivos que nos distraem e até nos fazem esquecer a horrível pandemia que nos tolhe os movimentos.

As crianças devem passar ali belos momentos. E nós também podemos ser crianças!

Também podemos visitar lá uma zona de trabalho sobre fósseis, almoçar sem riscos num espaço coberto e passar naturalmente pela zona dos "recuerdos". 

Ofereço-vos umas cinco dezenas de fotos para uma visita virtual. Acho que vale a pena!

António Henriques

terça-feira, 20 de outubro de 2020

As couves da Consolação

Neste apontamento, começo por dizer que não estou à procura de novo ofício, que nem sequer me ficava bem com a idade que tenho. Também não ando a disputar as fotos dos trabalhos agrícolas de que o meu amigo António Colaço já é especialista, aliando campo, arte e imaginação para quase diariamente nos dizer que existe.

A primeira realidade que constato é a pressão que sobre nós exerce a pandemia vírica. Andamos todos a fugir uns dos outros, com medo de pegar o bicho (que não é bicho!) ou ser apanhado por ele. Então, até o foco das nossas caminhadas ou viagens tem de desviar-se para outro lado. A natureza aí está para encher os nossos olhos, quer na forma de paisagem natural ou de terrenos cultivados pelo homem para deles extrair o sustento.

Aconteceu este ano nos poucos dias em que frequentámos a praia da Consolação em Peniche. Deixei-me tocar pelas imagens do campo em redor. E fui registando cambiantes em fotos que hoje trago para vosso leitura.

Fujo, para já, a questões importantes como é o caso de se tratar de agricultura intensiva, contestada por muitos e de que eu não tenho conhecimento. Também não estou preparado para falar do tipo de adubos usados ou da quantidade de água que se gasta.

O que me levou a fotografar foi simplesmente o gosto de olhar para aqueles campos em situações diversas de  tratamento. Já os vi verdejantes com outras culturas, curgetes nomeadamente, mas este ano eram as couves que mais ocupavam os espaços.  E dei por mim a pensar nos muitos trabalhos que estas explorações exigem. Lavrar, desterroar, alisar a terra, abrir leiras com medidas exatas para passar a máquina que automaticamente deixa cair e enterra os pequenos rebentos de couve dois a dois, distribuir pelo campo um sistema de rega que sacie a sede daquelas couvinhas, ora por aspersão ora por gotejamento, é um trabalho contínuo e muito esforçado.

As fotos que apresento acompanham o estado dos campos na sequência dos trabalhos agrícolas até à maturação final, com estes legumes prontos para chegar à nossa casa. São as máquinas e é o trabalho braçal, continuado por uma organização social adequada, pois estes produtos seguem para uma empresa (muito conhecida é no local a "Horta Pronta") que os prepara para embalamento e distribuição pelo diversos mercados. Não tirei foto, mas passámos por um local onde estavam expostas muitas centenas de abóboras que pacientemente foram retiradas da terra para serem vendidas. E também comprámos algumas por pouco dinheiro!

Vejam bem o que eu ando a ver! Vejam também vós estas fotos em ecrã inteiro.

António Henriques 



quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Perto de Óbidos

 Alguns amigos já sabem que viemos passar uns dias no Oeste, mais propriamente no Cadaval, terra de agricultura verdejante e dinâmica, onde a fruticultura prepondera. A pera rocha e a maçã enchem os campos, todos bem tratados, com as culturas bem alinhadas e sujeitas a rega por gotejamento, que implica muito trabalho de início mas é eficaz e reduz o consumo de água. 

Temos andado por aqui a olhar para todos os verdes, alguns já a desmaiar nos locais onde dominam as vinhas. E até já experimentámos ir ao rabusco, colhendo saborosas maçãs vermelhas que ficaram na árvore por não terem o calibre desejado.

O Covid por aqui ainda não atingiu números alarmantes, o que muito nos agrada. Mas notamos que as pessoas estão a respeitar as regras profiláticas, o que mais nos deixa descansados.

Nós também fugimos de todos os ajuntamentos e temos escolhido ocupar as horas deambulando por lugares mais isolados. Ontem subimos ao alto da serra de Montejunto e na sexta-feira visitámos Óbidos.

Nesta "vila das rainhas", estivemos uma hora com poucos visitantes, em que pudemos beber a ginjinha em copo de chocolate e gastar mais algum dinheiro para ajudar o comércio, que continua a definhar. Simpatia não falta, como também se notam as muitas vendedeiras em conversa umas com as outras à porta, por falta de trabalho. As lojas, por dentro e por fora, estão muito bem decoradas e bem organizadas, talvez resultado do tempo que a pandemia lhes deu.

De Óbidos não digo mais, para além das fotos que aqui deixo. Todo o mundo conhece.


Mas fomos ainda, ali ao lado, visitar o Santuário do Senhor da Pedra, que apreciámos deveras. Aquele barroco rural impressiona ali no meio do campo. Uma igreja monumental, em hexágono por dentro e circular por fora, espaçosa, apresenta um púlpito que se alonga para o meio da assembleia longe das colunas. A foto explica.  

A história desta santuário reporta-se ao achado de uma pedra em forma de cruz com pequenos braços, que tem ao meio a imagem de um menino gravada na pedra. A lenda ligou logo esta cruz à proteção divina, e os crentes recorriam ao Senhor da Pedra pedindo ajuda para as colheitas, as doenças e até aos resgates em alto mar (!!!).

A construção data de meados do séc. XVIII (1747) e teve como grandes mecenas o 1.º Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José de Almeida, e o rei D. João V, ele próprio "mui devoto do Senhor da Pedra". Saliente-se ainda a riqueza da talha dourada e policromada, as imagens em madeira e as muitas telas no interior da igreja. E, ali ao lado, podemos ainda admirar um chafariz "rocaille" da mesma época.

Vale a pena uma visita. E deixem um donativo para a manutenção do templo...

António Henriques







segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Na praia do Seixal

 Com o desejo de trazer novidades para esta página, lembrei-me de criar hoje um vídeo de 2,30m a mostrar uns pormenores da minha terra há 35 anos. 

Naturalmente, isto é saboreado por poucos, mas peço desculpa pelo atrevimento.

Estamos na ponta da terra, virados para o Barreiro, junto do cais fluvial que leva e traz muita gente de e para Lisboa. Aqui perto, também faço caminhadas para tratar do meu físico. Na foto, a minha pista de corrida, ai não, caminhada!

E tudo se pode visitar, para agrado de muitos, pois o Seixal, nos últimos tempos, tem sido renovado a nível de infra-estruturas, a que se junta a novidade das muitas construções na Quinta da Trindade, onde até o Benfica veio assentar arraiais.

António Henriques


segunda-feira, 27 de julho de 2020

Convento de N.ª Sr.ª do Bom Sucesso - Belém


Continuando a nossa visita a Belém, hoje falo do Convento de N.ª Sr.ª do Bom Sucesso que em boa hora visitámos. Situa-se na continuação para poente da rua que passa pelo mosteiro dos Jerónimos. Não é fácil esta visita, a não ser na hora da reza do terço. Mas para nós a Diretora do Colégio abriu-nos as portas e acompanhou-nos (sim, agora a Igreja está ligada a um colégio feminino no espaço que antes era convento das freiras dominicanas irlandesas, que conseguiram ser acolhidas em Portugal no tempo das guerras religiosas entre católicos e protestantes).
E que maravilha de Igreja! O retábulo do altar-mor é de uma riqueza visual extrema, com um baldaquino profundo sustentado por oito colunas de jaspe e ainda atapetado nas paredes com mármores de várias cores que dão ao conjunto um ar barroco evidente. Ao centro, ainda vemos um grande relicário de prata, encimado por uma coroa real. Noto também a profusão de imagens de santos e a pintura no fundo.
Para além da capela-mor, admirámos todo o conjunto em formato octogonal, com uma cúpula rosada e ainda ricos altares laterais (6) com bela talha dourada, mais imagens de santos dominicanos e ainda as pinturas do séc. XVIII.  As fotos ajudam a imaginar o que nós lá sentimos.
Visitámos ainda o antigo convento das freiras irlandesas de clausura, que daqui saíram em 1955, o claustro e o coro, onde elas rezavam e olhavam para a capela-mor, por detrás das grades. Olhem, verifiquei que elas eram muito baixas, dada a pouca altura dos cadeirais em que se sentavam!
Muitas histórias ouvimos destas freirinhas ciosas dos seus bens e dos seus valores. E também muito sofreram com a expulsão das ordens religiosas no regime liberal e com o advento da República. Quem ganhou foram as meninas que lá foram educadas quando o convento se converteu obrigatoriamente em centro educativo.
Para além das fotos, podem ver o vídeo da RTP, com a orientação sempre profissional da Paula Moura Pinheiro, assessorada aqui pelo Dr. Miguel Soromenho.


domingo, 12 de julho de 2020

Acho que vale a pena

A passar uns dias no Cadaval, tivemos a oportunidade de, sem grande esforço e dispêndio, visitar ali ao lado a Quinta dos Loridos, denominada Buda Éden, na freguesia do Carvalhal.

E digo que vale a pena, mesmo para aqueles que dizem "já visitei, é muito bonito!", pois as novidades destes dois ou três últimos anos são tantas que até as zonas clássicas, onde aparecem aqueles budas gigantes, reduzem a sua importância frente às novas zonas, com aquela riqueza de vegetação (os labirintos de bambú...), as centenas de esculturas - aquela grandiosidade e variedade da ambiência africana! - a importância da água, tudo nos convida à contemplação, à fruição lenta do espaço e ao repouso, porque não uma leitura sentados nos muitos assentos que existem... E até a facilidade em degustar um gelado ou beber uma garrafa de água!
As esculturas do espaço africano impressionam, quer nas figuras animais quer nas figuras humanas. Arte ali à nossa mão. Um ingresso por cinco euros não é nada para tanta beleza. 
Depois, ainda fomos na altura dos agapantos floridos, já na fase de murchar, que nos envolvem de cor e nos convidam ao agradecimento.
Não conseguimos ver tudo naquelas horas que por ali deambulámos. Até nos apetece voltar rapidamente. À saida, do lado direito, na inclinação do terreno, há uma plêiade de quadros sobre a história do vinho que nem pudemos mirar. Só vistos ao longe...
E à saída, ainda vimos ao longe o Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal, tão famoso nesta zona (é a última foto do vídeo). 
Valeu a pena, digo mais uma vez.
António Henriques

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Os Irmãos Karamázov

Acabo de ler as 914 páginas deste romance de Fiódor Dostoiévski, um dos mais falados e talvez a sua obra prima, acabado de escrever a dois meses da sua morte em 1881.

Tinham-me dito que era preciso coragem para esta tarefa, mas afinal não foi assim tão complicado. O tempo livre que esta pandemia me oferece também tem ajudado a leitura. E eu fazia apenas a leitura de 30 a 40 páginas por dia, que os meus olhos também ficam baralhados e confusos com páginas tão densas e era importante parar.

E que posso eu dizer aos meus leitores?

1 – As páginas apresentam uma mancha gráfica pesada, com caracteres pouco largos, mas lá fui avançando naquelas descrições e narrações exemplares, que me entusiasmavam. Percebe-se logo que o nível vocabular é de uma riqueza fora de série: como é possível utilizar tantos adjetivos, tantos nomes e verbos diferentes? A riqueza da nossa língua é muito grande e os tradutores souberam explorar bem a exuberância do português na tradução direta do russo.

2 – Logo nas primeiras páginas, começamos a ver um narrador-guia a acompanhar-nos na leitura, a explicar o caminho, a deixar para mais tarde pormenores que agora não interessam. Por vezes, até pede desculpa de não explicar melhor o acontecimento! Vamos assim passando de personagem para personagem, sendo o 1.º volume quase só a apresentação dos atores, começando o leitor a notar como toda aquela gente se encontra enredada num mundo real, historicamente marcado pelos finais do séc. XIX, sob a ditadura do czar Nicolau I e pouco depois de acabarem os medievos “servos da gleba”. A lei mudou, mas na sociedade continua a existir grande diferença entre ilustres e populares, que se contentam em servir os senhores, vivendo em barracas que o dono lhes cede e trabalhando nos serviços domésticos ou na agricultura, numa subserviência para toda a vida.

3 – O romance, dividido em dois volumes, gira todo à volta da família Karamásov, com as inevitáveis relações destes com o mundo real – os militares, os funcionários públicos e o mosteiro, que influencia muito aquela comunidade. Não esquecemos também as mulheres, especialmente as namoradas, que fazem irromper sentimentos contraditórios entre os próprios irmãos e o pai – ora é amor, ora é ciúme, ou ainda raiva, ódio e guerra de interesses entre todos.

4 – Dostoiévsky é um pintor de personagens, cada uma com a sua mentalidade. E quer os mais importantes quer mesmo os pequeninos, até crianças, merecem a atenção do narrador. Cada um é indivíduo diferente, a pensar pela sua cabeça, livre e responsável, mas nós sentimos que naquela sociedade só alguns têm voz. E vemos ainda como o autor é um perscrutador de consciências, comprazendo-se em narrar os movimentos íntimos da alma, que hesita, duvida, avança e recua, misturando nestes movimentos a culpa, a responsabilidade, a humilhação, a subserviência… Às vezes, eu pensei: ele está a escarafunchar a consciência em todos os seus patamares… E neste estudo íntimo das personagens, também me impressionou o tempo que o autor reserva a gente sem categoria social, sem função visível, os mais desprezados, até as crianças, que naquelas páginas desfrutam de tanto relevo como as outras. É assim a sociedade russa do tempo, em que todos se sentem dignos e pensam como indivíduos. Ou melhor, é esta a visão do autor!                  

5 –  Há quem chame a  este romance uma história de detective policial; na realidade todo o enredo caminha para uma explosão final. Dito por outras palavras, as personagens envolvem-se num drama que chega à tragédia da morte do próprio pai, sem se saber ao certo quem praticou tal ação. Parece que o irmão que mata e se suicida dá a vez a outro irmão que é condenado em tribunal sem culpa formal. Mas a teia de relações entre aquelas personagens chega ao ponto de todos se sentirem culpados da tragédia. Depois de um aparatoso julgamento, um é «condenado a vinte anos de trabalhos forçados» na Sibéria. Mas logo ali a história avança para uma hipótese de evasão para o ocidente…

Diga-se que o autor consegue urdir a trama de tal modo que, no tribunal, estamos a ver que os argumentos do procurador são bem fortes para condenar o réu. Mas, depois, o advogado de defesa fala de modo tão convincente que todos, os presentes e o leitor, achamos que o réu fica ilibado. Os jurados terão a última palavra, por sinal bem amarga e contrária ao que o leitor sabe.

6 – O autor, ao longo do texto, vai usando as personagens para discutir temas controversos ao tempo, como sejam as noções de liberdade, moral pessoal ou ditada por Deus, a relação do homem com a religião… Como homem de fé, o autor descreve demoradamente a influência do mosteiro sobre a sociedade (e na Rússia havia tantos!), mas não se esquece de mostrar a variedade de práticas monacais contrastantes até dentro do próprio convento e insistir no fantástico que enforma a alma dos fiéis. Quando o monge principal e guia espiritual Zóssima morre com fama de santidade e toda a gente esperava milagres, apenas se viu um corpo a cheirar mal poucas horas depois do último suspiro. Isto faz pensar as pessoas!

Mas é o noviço Aliocha, que frequentava o convívio com os frades que surge em todo o romance como o filho sensato, amigo, a unir a família, ao lado do irmão Ivan, ateu, perturbado e livre-pensador, que perturba outro irmão, já de si um idiota doentio, Smerdiacov, ou ainda Dmitri, o réu em tribunal acusado de parricídio, fogoso, insensato, capaz do melhor e do pior; na interpretação do procurador, ele representa a Rússia, capaz do bem e do mal. Para completar a família, diga-se que o pai Fiódor Karamázov se apresenta, na voz do procurador, como «aquele velho desgraçado, descomedido e depravado…», sem princípios morais, adulador e egoista.

Podemos dizer que, chamando para aqui o existencialismo, estas personagens não copiam estereótipos; são antes seres reais que assumem em liberdade as suas ações e sentem que o castigo ou a recompensa estão na própria consciência. Aqui, não é Deus a castigar, é o próprio indivíduo que assume o resultado de suas ações e até de seus pensamentos. Liberdade vem acompanhada de culpa, medo, humilhação ou paz interior. E é tal esta simbiose que há personagens que, em resultado do seu comportamento, chegam à doença física, às febres, à loucura… Enquanto outras, como Aliocha, arrastam os outros e cativam as próprias crianças.

E fico por aqui para não maçar demais.

António Henriques

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Olhando o meu quintal


EM TEMPOS DE PANDEMIA

Claro que cansa! Este ninho da nossa casa não satisfaz todas as necessidades.

Mas há que mudar de óculos e fixarmo-nos nos aspetos positivos.

Eu aproveitei-me do quintal, onde nós e os nossos gatos se deleitam,

para levar umas imagens para o computador

e mexer nas aplicações que possuo

para continuar a treinar.

António Henriques



terça-feira, 5 de maio de 2020

Um amigo despediu-se

Acabo de receber a triste notícia do falecimento do João Torres Heitor. O seu funeral vai ser hoje, 4 de Maio, às 4 da tarde, para o cemitério de Carnaxide.
Vamos falar dele.
Abrir o link de outro blogue da minha responsabilidade. António Henriques

https://animussemper.blogs.sapo.pt/joao-heitor-as-nossas-despedidas-553815

sábado, 4 de abril de 2020

E venha a Páscoa!

Olhando o momento presente

E já passaram duas semanas neste degredo… E não sabemos quantas semanas mais teremos de conviver com as paredes da nossa casa as vinte e quatro horas do dia! É esta a dura realidade que afetou profundamente as nossas vidas.
Pela primeira vez, sentimos que a Terra é uma aldeia global, pois todos nos sentimos ameaçados pelos mesmos inimigos, todos estamos a repetir os mesmos gestos, todos usamos as mesmas armas com vista a uma vitória final, que ainda não se vislumbra.
Antes, ainda uns respiravam paz quando outros se dilaceravam em guerras. Antes, ainda havia os que sentiam a sua vida abalada por fortes chuvadas, ciclones e tempestades sem fim, enquanto outros gemiam ao calor medonho que seca a natureza e os corpos, transformando tudo em cinza.
Hoje, do norte ao sul, de leste a oeste, percorrendo todos os continentes e países, a ameaça é a mesma – um vírus invisível a encurralar-nos em casa, a destruir os modos de produção e de convivência, o que faz adivinhar a maior crise mundial que alguma vez aconteceu…
E nós aqui estamos a sonhar com um futuro risonho, sem abandonar a esperança de um mundo novo, mais humano, mais feliz, capaz de satisfazer a todos. Não nos sentimos derrotados e continuamos a acreditar que o homem vencerá, ultrapassando mais esta crise e, porque não?, reorientando as agulhas do viver coletivo com a energia da justiça, da solidariedade, da amizade verdadeira a desfazer os egoísmos.
Estamos na primavera, portadora de novas promessas, energias e frutos. Estamos na Páscoa, que sempre nos convida a acreditar que a dor, o sacrifício e a cruz são o prenúncio de uma vida nova, como a de Jesus o Ressuscitado.
A todos os amigos leitores deixo esta minha reflexão, querendo irmanar-me convosco no combate ao delírio da prisão. Faço o convite para olharmos mais ao que se encontra ao nosso redor – as pessoas, os animais, as plantas e as flores. E oiçam a melodia dos passarinhos.
Agora estamos a experienciar novas vivências. Boa Páscoa!
António Henriques

quinta-feira, 19 de março de 2020

Estamos em casa

Aqui estou eu a esforçar-me para trazer novidade aos amigos.
Nestes dias de isolamento social, quebrado apenas pelos telefonemas dos amigos e familiares, há a tendência para uma certa modorra, desleixo, eu sei lá, até um desconforto psicológico que nos tolhe e nos faz infelizes...
Há que combater estas adversidades... Há que pensar em aspetos positivos. Eu já arrumei papéis que há um ano esperavam mão amiga. Até já vi filmes em casa. Até comecei a ler mais. 
Cada um tem o seu modo de fazer, não estou a impingir nada. Mas a verdade é que muito, mas muito mesmo, depende das decisões de cada um. 
A pequena amostra que vos deixo ajuda a descobrir como fazer. E a minha esposa também vai nesta onda: até já fez um prato especial para apresentar no seu blogue (papas e bolos), sobretudo para as mães que agora têm os filhos pequenos em casa. Em breve, aparecerá mais uma receita.
Também se podem entreter mais com o nosso blogue, usando a função pesquisar.
Passem bem! AH

sexta-feira, 13 de março de 2020

Estamos em 2013














Por outras bandas e com muito gosto





Cidade de Damman, Arábia Saudita - Um dia, telefonei a pedir um táxi para o centro da cidade (down-town) e, quando entabulámos aqueles poucos diálogos de quem sabe mal falar a língua, vieram as surpresas:
- De onde são os senhores (what country are you from?)
- Somos de Portugal, “the Ronaldo’s country”… 
E, para nosso espanto, o motorista diz que não conhece este football player. Era um indiano simpático, paciente com o nosso fraco inglês, que às tantas começa a falar da nossa terra, Portugal, como a terra de Vasco da Gama, que chegou à Índia em pequenos barcos (short ships), levados pela força do vento (moved by wind…), descobrindo um novo caminho entre a Ásia e a Europa (a new way between India and Europe). I learned it in my school’s books (aprendi isto nos livros da escola), frase dita com pompa e algum orgulho, o que ainda mais me aproximou deste indiano. 

Cada um tem os seus conhecimentos, mas este indiano, que conhece Vasco da Gama e não conhece Cristiano Ronaldo, é mesmo uma surpresa, tanto mais que, quando surge a palavra Portugal no estrangeiro, logo vem à fala o nome de Figo ou de Ronaldo, consoante o interlocutor seja mais velho ou mais novo… Irritado com tanta repetição, já uma vez na Turquia, quando vieram à baila estes nomes, eu adiantei: «from Portugal is also António Henriques», a que eles responderam: «I don’t know this» (esse, não conheço!)… 
Peripécias de turista. Mas é enriquecedor olhar estas caras escuras, gorduchas, de olhos vivos, ouvir estes falares estranhos que nos prendem a atenção, mesmo que muitas vezes a comunicação seja superficial… 

António Henriques

A imagem pode conter: 1 pessoa, interiores



No Mall of Darhan, satisfazendo a curiosidade dos olhos... Copiando outros comportamentos!
A imagem pode conter: céu e ar livre



A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e interiores














Do alto da Torre de 100 pisos em Ryadh, vê-se a cidade lá em baixo. Parece vista de avião...














Durante os vários momentos de oração, tudo fecha e as pessoas (homens sobretudo) enchem os espaços...










A imagem pode conter: 7 pessoas, pessoas sentadas, mesa, bebida e interiores







Vejam só: desta vez, à mesa. estavam pessoas de Portugal, Grâ-Bretanha, Nova-Zelândia e Paquistão.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Passeando por Aveiro

Depois de vos ter mostrado o Museu de Santa Joana atrevo-me a apresentar um vídeo (6 m) com as impressões gerais sobre a cidade: as casas, os canais, as ruas, os produtos, as outras igrejas...
É uma tentativa de construção difícil para um principiante (juntar imagem, som ao vivo e gravado, música, etc.), mas que, em dias de férias, me deu muito gozo. Desculpem as imperfeições!
AH



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Igreja da Memória


 

Este monumento nacional tem por detrás uma triste memória de violência, atribuída na época aos Távoras, uma família nobre que não se relacionava muito com o Marquês de Pombal, a quem consideravam um nobre de segunda classe.

No início de tudo, houve naquele lugar um atentado contra o rei D. José, que vinha de um serão com a amante, filha dos Távoras e já casada. O rei ficou ferido num braço e logo se atribuiu a culpa a esta família. O Marquês avançou com um processo que culminou com a morte violentíssima de muitas pessoas da família dos Távoras, do Duque de Aveiro, do conde de Atouguia, incluindo crianças e a que se juntou o P. Malagrida, jesuíta, cuja ordem não era bem vista pelo poder. Houve ainda o arresto de todos os bens destes nobres.

A execução da sentença ainda hoje é rememorada por uma coluna erigida num beco junto aos Pastéis de Belém, apelidado de Beco do Chão Salgado, por nesse lugar estar o palácio do Duque de Aveiro, que foi destruído e o chão coberto de sal para nunca ali poder medrar algo.
Por se ter "livrado" da morte, o rei manda erigir esta Igreja dois anos depois, num gesto de agradecimento a Deus.

A Igreja da Memória, também chamada “do Livramento”, é uma arquitetura barroca, de linhas clássicas, mas com formas curvas. Sobressaem os mármores nesta igreja. E o transepto (o lugar onde se cruzam os dois braços da cruz latina) é encimado por um conjunto harmonioso de zimbório, cúpula e lanternim lá no alto (uma foto mostra bem estes elementos).

Também notámos que, em vez de colunas, foram usadas pilastras para sustentar o edifício. Visível igualmente a beleza dos varandins e do coro, com o dourado a brilhar.

É nesta Igreja que se encontra o mausoléu com os restos mortais do Marquês de Pombal desde 1923.

A Igreja é pequena, mas muito frequentada como centro de fé.

O resto mostram as imagens.