domingo, 25 de novembro de 2018

José Milhazes


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Apontamentos
Já em casa, volto em espírito ao Carmelo do Carmo - Fátima, onde se desenrolaram as jornadas culturais da UASP neste fim-de-semana. E com a ajuda de uns apontamentos (não havia sinopses dos temas de cada orador), vou redigir uns textos com as ideias que foram explanadas por cada um, naturalmente através de uma visão pessoal, que pode torcer o entendimento. Se um copo é verde, a água que lhe cai dentro também passa a verde. Mesmo assim, ser fiel é o meu objectivo!
Disse ontem que a primeira sessão foi orientada por José Milhazes. Na sua comunicação, começou por falar das «novas tecnologias que viraram tudo de pernas para o ar». Em 1985, sem faxes, com telefones à mercê da boa disposição da telefonista, "foi necessária uma semana para a família em Portugal saber do nascimento da sua filha!".
Iniciou-se uma crise profunda na cultura e na fé-religião. A qualidade da cultura é cada vez mais relativa e a fé, cada vez mais rara. O pior foi o ataque da cultura contra a fé, considerada obscurantismo. Forças contrárias, grupelhos minoritários propondo ideias utópicas minaram o ambiente social.
É preciso resistir. A Igreja deve competir no mundo da informação. Na sua óptica, porque não um autêntico canal católico de TV? Lembram-se do chinfrim que houve quando Dina Aguiar disse «Até amanhã se Deus quiser»? Se fosse «Até amanhã, camaradas»,  tudo estava bem!... A Igreja perde as oportunidades de falar e estar presente nos momentos críticos. Com a greve no porto de Setúbal, o bispo não devia ter usado da palavra?
Transparência, pede-se na igreja: - no ataque frontal à pedofilia, no tratar de "arquivos secretos" que o D. Tolentino vai gerir, quando sabemos que esses arquivos são lixo e vergonha... Deve tomar uma atitude preventiva e não agir apenas quando a casa está a arder. A fé cresce na experiência e partilha comunitária da palavra de Deus. 
Coragem para denunciar o erro. «Eu fui para a União Soviética para viver no "paraiso terrestre" (o outro só me chegava daqui a 80 ou 90 anos!). E vi o que lá se passava». Tiranias fascistas não foram só de Hitler, mas também de Lenine, Estaline, Fidel Castro ou Maduro... Corre por aí a fama de que a esquerda é impoluta e só os da direita são corruptos. Eu vejo-os a cometer os maiores crimes e depois desculpam-se, dizendo que "se trata de danos colaterais"...
Cultura, pede-se mais cultura, mais formação aos homens de fé, elevando o nível cultural dos dirigentes da Igreja. Assim, serviríamos melhor a comunidade... E chega por hoje.
José Milhazes ainda disse que o seu livro, cuja sinopse apresento a seguir, era para se intitular "Viagem ao paraíso terrestre", para a ideia geral ficar mais clara!
AH
 
As Minhas Aventuras no País dos Sovietes
SINOPSE
«Naquela altura, mais precisamente no dia 9 de setembro de 1977, os comboios da linha Póvoa de Varzim-Porto (Trindade) ainda eram movidos a carvão e foi num deles que se iniciou, nessa data, a minha longa viagem ao País dos Sovietes.[…] A mala era leve porque, além de não haver dinheiro para mais, eu estava convencido de que não se ia para o Paraíso Terrestre com a casa às costas, porque nesse lugar não costuma faltar nada, à excepção do pecado. 
Sim, eu ia viver na sociedade quase perfeita, na transição do socialismo desenvolvido para o comunismo.»
JOSÉ MILHAZES

sábado, 24 de novembro de 2018

Postal de Fátima


E cá estamos nós a beber de outra água neste planalto de Fátima, a martirizar-nos com o frio, que só sentimos quando pomos o nariz fora de portas, já que aqui dentro, neste novo Carmelo do Carmo, andamos bem aconchegados pelo calor ambiente e pelo calor humano que irradia de todas estas caras que vieram de vários pontos de Portugal para as jornadas de reflexão da UASP - a União das associações de antigos alunos dos seminários portugueses, quer diocesanos quer das congregações religiosas.
Para nós, com dia e meio cheio de conferências de gente que vale a pena ouvir, estas horas estão a encher-nos de novidade e formação pessoal. Talvez pela idade, sentimos esta ânsia de aprender e ouvir mais que as conversas do quotidiano.
Nos próximos dias, à medida que puder, terei gosto em escrever pequenos apontamentos sobre o que vamos ouvindo. Começámos o dia a ouvir o José Milhazes, antigo seminarista dos combonianos e que durante muitos anos foi o correspondente da SIC em Moscovo. Um homem bem viajado, estudioso e atento à evolução dos acontecimentos. Gostava de o ouvir por muitas horas, eu que ainda há poucos dias acabei de ler o brutal romance "O fim do homem soviético". 
Por hoje fica apenas este apontamento, a convidar os amigos a pequenas paragens de escuta e observação de outras realidades. Ficamos mais leves de espírito...
E já agora, leiam este pequeno currículo...

António Henriques


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Sair para parar

Ora aqui está um título bem sugestivo para uma incursão pelo mundo oposto ao que tu vives, saboreias ou detestas no teu respirar quotidiano!
Andamos tão imersos em compromissos, actividades, visitas, preocupações, que nos enchem as horas da existência que não costumamos parar para viver outro estilo de vida…
Ainda bem que alguém nos ofereceu um “voucher” de fim de semana para vivermos umas horas diferentes! A escolha é nossa e por aí fora há muito lugar bonito onde prender a atenção, para viver horas sem “preocupação”. Outros já o fizeram, coube-nos agora a nós…
Das muitas hipóteses, escolhemos a menos óbvia! Em vez de visitar terras, museus e monumentos, para emergir do nosso quotidiano decidimos mergulhar no silêncio e no deserto de Fátima, onde não quisemos ter obrigações…. Apenas andar por ali rezando, olhando o ambiente, lendo um pouquinho de um livro que levámos, associando-nos ainda a alguns actos colectivos que nos apanhavam quase sem querer. É um «dolce far niente» a roçar o invisível, o espiritual, a sentir as emoções de tantos que ali também sentem a presença do sagrado, por mais que se tente e não se consiga descrever o que nos atrai.
Rezámos? Sim, embora eu não saiba bem o que é rezar. Falar com Deus não é bem a mesma coisa que falar com a esposa que me acompanha. Com ela também há horas de silêncio que são boas e que nos enriquecem. Talvez sejam apenas estes silêncios que nos ligam ao Deus em que acreditamos. Sentir-me imerso num ambiente espiritual, religioso, como se estivesse num mergulho profundo de uma piscina, foi isso que fizemos. Ao rezar o terço, ao andarmos pelos vários locais que rememoram todo o fenómeno de Fátima, aconteceu lembrar-me (-nos) de muitos familiares, de muitos amigos que há muito nem me vinham à lembrança. Foi na Cova da Iria e foi nos Valinhos. Quase que ultrapassámos toda aquela parafernália comercial, a prender a atenção dos “peregrinos”, também necessária para as prendas que temos de levar(!?), e apenas olhámos para o mais significativo.
Ponto de paragem obrigatória, a Capelinha das Aparições. As velas eléctricas que acendemos até se multiplicaram para além do que nós depositámos, milagre de bênção inesperada… A oração individual, mesmo assim, irmana-nos a tantos que ali estão presentes, num acto de fé colectiva (estamos a sentir-nos todos numa mesma crença e a olhar para a mesma Virgem-Mãe e para o mesmo Deus) e irmana-nos aos ausentes que, mortos ou vivos, nos vêm à memória.
O mesmo ou diferente sentimos na Basílica da Santíssima Trindade. Naquele silêncio forte, mesmo aterrador quando entrámos naquele ambiente tão espaçoso, tão rico, tão esplendoroso e quase só para nós…
Não passou meia hora quando começámos a ver aproximar-se uma corrente contínua de gente. Que se passa? No horário oficial, não constava nenhum acto religioso. Como eu ando tão afastado destas coisas!… Era o primeiro sábado do mês, que atrai a Fátima uma chusma de crentes para a confissão, a missa e a adoração do Santíssimo Sacramento. E também nos integrámos nesta celebração, porque não?
Já à noite, na visita à Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, nova enchente para a celebração eucarística, seguida da visita aos túmulos dos santos Jacinta e Francisco. O órgão, ali, abafava as vozes, ao contrário do da outra basílica.
Ainda nos irmanámos com a natureza e o espiritual nos Valinhos, onde vivemos a simplicidade e a coragem interior destas três crianças, que aderem a Deus e à Virgem contra todas as perseguições. São muito convidativas aquelas frases dos pastorinhos difundidas pelo caminho.

Saímos para parar… É o descanso físico e é um encher de ideias a convidar-nos ao essencial, para vivermos o dia-a-dia desprendidos de tantos acessórios. Quase sem querer, outros propósitos nos invadem, mais humanos, mais espirituais.
Foi mesmo bom!
António Henriques