domingo, 26 de dezembro de 2021

O meu Natal

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Não vejo anjos a anunciar o nascimento de ninguém. Não oiço pessoas a falar de um qualquer acontecimento extraordinário. Os pastores, com frio, ficaram nos seus casebres e não se deslocaram à manjedoura onde o milagre do menino nascido aconteceu. Até o boi e a vaca se estenderam preguiçosamente e não aqueceram Jesus!

Também não vi estrelas a marcar o céu com lancinante linha a apontar o presépio de Belém. Todos os fenómenos celestes apontam para a normalidade da sua existência, embora deixem pasmados aqueles que os olham na sua grandeza e misteriosa magnificência...

E que vejo eu?

As pessoas estão cansadas de tanto correrem à procura da prenda que irá mimosear aquele familiar ou amigo. Depois é preciso limpar a casa, preparar a roupa, comprar alimentos e confecionar refeições para uma casa mais habitada do que habitualmente. Descansar, só depois de Natal...

Noutros tempos, também eu corria. Agora fico-me mais na pacatez dos dias, contando que outros sejam os responsáveis por as coisas acontecerem. Já não há pachorra nem ligeireza de movimentos para fazermos a diferença. É a terceira idade, meu caro! Ou será já a quarta?!

Mas à minha volta vejo pais-natal por todos os lados, alguns a subir paredes e outros a descer de telhados e gente entusiasmada com estas imaginações. Vejo renas e trenós deslocados das terras geladas para locais mais temperados. É preciso acreditar, é preciso imaginar e cada qual escolhe o objeto da sua crença. Eu tento mais acreditar que Jesus Cristo é mesmo o grande revolucionário da história e conta comigo para criar paz e justiça em meu redor. Não posso fazer muito, mas vou tentando...

A família é por estes dias o grande móbil das nossas movimentações. E, se o Covid não tivesse estragado tudo com a infeção do nosso filho, era a família que nos fazia deslocar para a Polónia, para criar proximidade entre as duas partes, para nos conhecermos e nos alegrarmos por ver jovens felizes que se amam e que apostaram na vida a dois por esse mundo fora. Neste momento, é na Arábia Saudita que eles vão trabalhar... Era por a família ser importante que fazíamos o sacrifício de irmos para a neve e frio polacos para conhecermos a família da nossa nora.  Da nossa parte, bem nos preparámos... Mas não foi possível!

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Assim, é da Amora que envio um abraço de amizade e de esperança a todos os que passam pelo "ANIMUS SEMPER", desejando-vos muita saúde, muita felicidade e muita paz entre todos. Vale a pena ter fé e esperança em melhores dias, confiando na luz do Menino Jesus a iluminar a nossa caminhada, mesmo que ela já seja trôpega...

Boas Festas de Natal do António Henriques

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Visitei Malta

É verdade! Mesmo em tempo de pandemia pudemos visitar Malta. Arrastados por filho e nora, pudemos gozar cinco dias a olhar deslumbrados para as belezas naturais e o património cultural classificado da Unesco em Malta. O facto de este país estar também com 82% de população vacinada deixava-nos alguma segurança, acrescentada pelas máscaras que lá se usavam nos espaços fechados.

Já tínhamos ouvido falar daquele pequenino país, mas com esta visita os olhos ficaram cheios de riqueza, de cor, de beleza, que vão perdurar por muito tempo. Passados estes poucos dias, o olhar para as fotos que tirámos enche-nos de alegria, majorada com as caras familiares com quem convivemos, o que, nos dias que correm à mercê do distanciamento social, mais nos envaidece!

País pequenino, com uma população de menos de 500.000 habitantes espalhados por três ilhas (Malta, Gozo e Comino), é um repositório histórico de muitas culturas, desde os Fenícios até à atualidade. Lá deixaram vestígios os gregos, romanos, árabes (na língua de 870 a 1090), italianos (o condado da Sicília dominou Malta por muitos séculos). Em 1518, sob o império de Carlos V de Espanha, foi cedida aos cavaleiros da Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, que tinham sido expulsos de Rodes pelos otomanos. E é esta Ordem Militar que governa a ilha até ao séc. XIX. Nos tempos modernos, foram os Ingleses (1800) que se assenhorearam do território até 1964, quando Malta conseguiu a independência. Atenção: não posso deixar de referir a ligação da Ordem de Malta às Cruzadas dos séculos XII e XIII e à proteção dos peregrinos que se dirigem à Terra Santa, pois é esta a sua principal missão.

E de história já chega...

Então, o que é que nós vimos? Um território onde predominam as planícies, com alguma vegetação e muita pedra. Para cultivar a terra, muitas pedras e pedrinhas foram retiradas e aproveitadas para fazer muros. Até me lembrei das videiras do Pico que crescem entre paredes de muita pedra!

Espanta também a cor do mar; aquele azul tão carregado fez-me lembrar o mar das ilhas gregas, e a cor dos tinteiros da tinta Ink que enchia os nossos aparos quando jovens.

O mar é o elemento predominante. Ele entra pela cidade de La Valeta, entrecortada de baías e enseadas, que mais parecem canais (ai a nossa Aveiro!), agora cheios de marinas com iates e veleiros.

E as construções? Encontrámos uma cidade bem conservada, com a sua parte alta muralhada, mas leve e airosa nos palácios, jardins e outros monumentos. As ruas estreitas apelam à sua antiguidade (não passou por lá o Marquês de Pombal!); por isso, o trânsito é difícil, ainda mais porque não se paga estacionamento. Olhamos para aquelas casas e extasiamo-nos com a solidez dos edifícios em pedra calcária, a beleza das linhas que lhes confere um ar senhorial e ainda o galanteio daquelas varandas maltesas pintadas de azul, verde ou amarelo.

Tinta, para além das varandas, não se nota nos edifícios. Só nas janelas e portas, muito altas, encimadas por um semicírculo pintado ou em ferro forjado.

Igrejas, muitas, quer em Malta quer em Gozo (não vimos Comino). Predomina o barroco, embora haja também edifícios clássicos do séc. XVI, revestidos embora com as riquezas do barroco.

As esplanadas abundam e é muito agradável beber um café naquelas grandes esplanadas rodeadas de riquezas arquitetónicas, como na Triq Ir-Repubblika, uma larga avenida para peões junto da Catedral de S. João Batista e do Tribunal. Disse “Triq” para verem logo como é difícil a língua maltesa.

Também senti muita alegria a passear pelos campos de Gozo, olhar para grutas, fotografar catacumbas com muita história, saborear iguarias locais, próximas das italianas, e sentir-me turista nos dias que correm…

Agora, de muito especial foi a visita à Co-Catedral de S. João Batista em La Valeta. É outro mundo! No chão, nas paredes e no teto, não há um espaço vazio. Tudo merece atenção. Passeamos sobre muitas peças de mármore incrustado, de várias cores, letras, desenhos e brasões. As paredes estão revestidas de pinturas, esculturas, de múltiplas formas artísticas revestidas a oiro, em motivos vegetais, com a flor de lis e ainda a cruz de Malta das oito pontas. A abóbada e a cúpula prolongam este montão de arte e bíblia, especialmente em pinturas que se prolongam para o coro alto.

As fotos dizem mais que as minhas palavras.

Valeu a pena… Olhar, saborear, conviver, três ações que marcaram os nossos dias em Malta. Mas duas coisas são importantes: falar inglês e guiar o carro à inglesa, o que para mim não seria fácil.

António Henriques