sábado, 23 de dezembro de 2017

Voltando à Madre de Deus


Já aqui expus as maiores impressões que me causaram a visita guiada à Igreja da Madre de Deus, ali em Xabregas. E, ao lado, encontra-se o Museu do Azulejo, um museu didáctico a que muitos recorrem para apreciar a rica azulejaria portuguesa, que um dia também abordarei.
Hoje, apetece-me falar mais do Coro, um espaço sobranceiro à Igreja, reservado, onde as clarissas assistiam à Missa e rezavam o Ofício Divino. Continua a impressionar a riqueza e mesmo a excrescência da talha dourada e ainda o número elevado de pinturas que adornam o espaço. É o barroco em todo o seu esplendor (vide foto).
Coro.jpg
1 - As monjas ocupavam cada uma o seu lugar, que se caracterizava por ter um assento articulado, que se levantava para que a ocupante pudesse estar de pé no mesmo lugar. Ao levantar o assento, este tinha uma pequena tábua colada na horizontal que permitia que a freira pudesse descansar, embora parecesse que estava de pé. E o cadeiral tinha ainda dois braços laterais em que se podiam apoiar os cotovelos. Tudo para que o muito tempo que as freiras passavam em oração não fosse demasiado incómodo.
Mas eu notei que o guia, ao mostrar como aquilo funcionava, ficava com os braços muito acima do encosto. Para ele, os braços do cadeiral eram baixos. Pudera! Passaram dois séculos e as pessoas são cada vez mais altas!...
2 - Ao centro, em cima de um tapete, podemos ver uma estante de coro, necessária para se cantar com o livro à distância, que era coisa que não abundava ao tempo. Não vejo que fosse fácil esta leitura àquela distância, embora os livros do tempo tivessem grandes medidas, mais que meio-metro de altura!Madre Deus.jpg
Madre Deus1.jpg3 – Muito gostam os nobres de conviver com as freiras, não... queria dizer com os santos, para que o seu nome e a sua efígie perdurassem no tempo e na eternidade. Ao fundo, do lado esquerdo, lá se encontra uma pintura com o Rei D. João V ao lado de S. João Batista e, do lado direito da foto, a imagem de D. Leonor com a S. Clara de Assis.
4 – Durante a visita, alguém chamou a atenção para a nudez do altar-mor, que se pode ver noutra foto. Sem os arrebiques do barroco, é constituído apenas por pedras de duas cores e formas simples. Há explicação? Claro: aquelas pedras nuas eram revestidas por belos frontais de altar, muitas vezes de tecidos caros, brocados de seda entretecida de ouro ou prata, até com relevos... À falta deles, ou por moda do tempo, usavam-se ricas peças de azulejaria, como podemos admirar esta no Museu do Azulejo.
Foram notas soltas, impressões de uma visita, que podem interessar a alguém.
António Henriques

NOTA: Por cima da abertura que, no coro, permitia a visibilidade do altar-mor, há um quadro gritantemente ornamentado, de louvor ao SS. Sacramento. Podem observar melhor a foto, assim como ver mais uma vez a imagem do corpo e da capela-mor da Igreja. Acrescento ainda um frontal de altar em azulejo, com notórias influências orientais.













segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Visita ao Mosteiro da Madre de Deus

Não é uma questão de neura, pois a vida não me conduz para aí, graças a Deus.
Tecto em abóbada com caixotões pintados 
Foi um convite que nos surgiu pelo Facebook. Lembravam-nos que havia uma visita guiada ao mosteiro da Madre de Deus, ali para Xabregas, na manhã deste domingo.
Consultada a família, convidados uns amigos, lá nos inscrevemos. As sensações melhores vieram no final da visita. Como foi agradável passar uma manhã embrenhados em cultura, regalando os olhos e os ouvidos com quadros e histórias algumas bem conhecidas e outras nem tanto... Mas esta sensação de deixar o quotidiano, esquecer a casa e os gatos por umas horas, limpar a cabeça de preocupações, levanta o ânimo, descansa o espírito e carrega-nos de energia pacífica! Foi isto que ouvi também aos meus companheiros de viagem...
O mosteiro integra o Museu do Azulejo, já nosso conhecido e bem estudado há uns anos atrás, e os espaços dedicados mais às funções religiosas e de habitação das freiras franciscanas clarissas que o habitaram desde o séc. XVI. Pessoalmente, eu não conhecia estas dependências maravilhosas, que me encantaram.  Os claustros, de contornos manuelinos ou pós-manuelinos, são sóbrios, como é próprio dos espaços femininos das clarissas.
Mas nas outras dependências, a riqueza exibida não condiz com o rigor da Ordem Franciscana, sendo evidente o carinho que a realeza tinha por este património e ao qual dedicaram sempre muita atenção.
Sujeita a muitos trabalhos de restauração, sobretudo após o terramoto de 1755, notamos na Igreja notas do estilo gótico, do clássico (na capela-mor), mas é o barroco que mais impressiona, quer na profusão de talha dourada dos altares ou nos muitos quadros de pintura que ornam as paredes. Dá vontade de dizer que, se em Portugal o azulejo serviu para fazer as vezes das grandes tapeçarias e pinturas com que na Europa se forravam as paredes, ali ainda são as pinturas e a talha dourada que dominam, embora encontremos lá as paredes forradas com grandes painéis de tons azulados, típicos do séc. XVIII. E na pintura, fiquei preso ao quadro da Assunção e coroação da Virgem, que encima o arco que separa o corpo da igreja da Capela-mor, quase um Arco do Triunfo como em Paris, pintura esta do grande pintor Oliveira Bernardes, disse o guia.
Mais poderei dizer em dias seguintes. Por ora, recreiem-se com este pequeno vídeo, com música ao vivo!
António Henriques