sexta-feira, 25 de março de 2022

Escrita sem rumo

 Andamos atormentados pela crueza e insensatez da guerra, que não nos dá alento para sair da moleza dos dias. Mas a vida continua e há que fazer por ela... De contrário, lá se vai a gozação dos dias, a sensação viral de estarmos vivos, com saúde e prestáveis para algo.

Assim, apetece-me hoje escrever sem rumo, levado pelo pensamento que voa de um lado para outro, como fazem alguns escritores que nos deixam às vezes perdidos no meio das páginas. E começo:

Nos últimos dias, a coluna negra do nosso ANIMUS SEMPER, à esquerda, chama a atenção para os comentários que me vêm chegando, alguns tão ricos que me apetecia pegar neles e criar novas mensagens para os leitores descuidados. 

Um deles é da Luísa Nogueira, irmã do grande companheiro destes últimos anos, o Joaquim Nogueira, a quem me ligam momentos especiais que já não voltam. A Luísa foi colega do João Lopes na faculdade (como o mundo é pequeno!) e as primeiras vezes que a vi foi na apresentação dos dois livros do Joaquim, envolvida também na apresentação dos mesmos. Fico a saber que ela é uma das visitas frequentes do nosso blogue (ontem foram 96 Visitas e 277 Visualizações), o que me dá ânimo para investir o meu esforço nesta pequena praça de convívio entre colegas dos mesmos seminários.

Mas os meus pensamentos giram logo para outras paragens, num dia em que o Abílio Martins me envia um email com uma canção africana, que por acaso abro e aprecio do princípio ao fim. Até a trouxe para aqui, pode ser que mais alguém se deleite com estas surpresas africanas, um continente que ainda espera a sua vez para entrar na cena mundial. Eu da África tenho 47 dias, uma férias inesquecíveis, correndo quase todos os cantos, embora me tivesse demorado em Sá da Bandeira, a atual Lubango, onde o meu irmão trabalhava na Acajobel. Porque falas nisto? É que a Acajobel tinha nos sócios dirigentes um Dr. Nogueira, também da família dos Nogueiras da Várzea dos Cavaleiros e de quem estamos a falar aqui. E foi ele que sorrateiramente, escapando às tropas da UNITA, foi ao aeroporto levar umas latas de leite em pó que alimentaram a bebé do meu irmão durante as semanas em que os portugueses fugiram com as tropas sulafricanas para a Namíbia. Acho que o Joaquim Nogueira, quando saíu com a esposa do Congo Belga, também passou por Sá da Bandeira no regresso à metrópole. E lá fez tão boa obra que houve gente desse tempo que me pediu o telefone da irmã para lhe apresentar palavras de pêsames e conforto.

Olho para África e sofro com as fragilidades e sofrimento dos africanos, mas tenho de confessar que Srª de África.jpgé também com a África que se faz a minha história, não só porque foi de lá que o meu irmão trouxe a rica mulher que muito bem cuida dele, como também foi de África que trouxe a imagem de Nossa Senhora, isto em 1970, que ainda hoje me protege e à minha família, acompanhando-nos no lugar mais íntimo da casa. Aqui ao lado está a Virgem. E como veio parar às minhas mãos? Em Luanda, fui recebido pelo conterrâneo, o Abílio Martins, com quem estive dois ou três dias. Não foi só o P. Horácio a receber a generosidade deste Antigo Aluno. Também a mim chegou a sua presença benfazeja e a oferta desta bela imagem em madeira... E já lá vão 52 anos...

De Luanda, onde também estive com o P. Eusébio, ainda fui de comboio a Vila Salazar estar com o meu colega de curso António Lucas Rodrigues, que faleceu poucos meses depois num brutal acidente de viação, ele que me levou a Malanje, onde pude conviver com outro colega, o P. José Mendes F. Antão. Paz às suas almas!

Para não me alongar, volto ao email do Abílio que me trouxe este vídeo em baixo. Nos últimos tempos, quando o Joaquim Nogueira se sentia debilitado, era a enviar emails que ele comunicava connosco, imagens belas deste mundo lindo. Não sou o único a falar deste seu gesto, embora alguns emails tivessem ficado por abrir por falta de tempo, eu que estava voltado para outros compromissos. Como posso dizer mal das redes sociais se são elas que me ligam ao mundo? Ainda por cima com a prisão covidiana?!

Vá, oiçam esta Avé Maria pelas crianças africanas:

António Henriques



quarta-feira, 9 de março de 2022

O meu Dia da Mulher

Então tu deixas passar o Dia da Mulher e não escreves uma reflexão sobre esse importante evento? Onde é que tu andas?

- Olha, a vida é mais importante que uma comemoração. Ainda há poucos dias (2/03) exaltei aqui uma mulher especial. Não sou insensível a certas datas. Mas quando nos batem à porta a pedir ajuda por terem chegado de Odessa (sul da Ucrânia) duas mulheres e três filhos com a simples roupa do corpo, as prioridades voltam-se todas para estas urgências. Desde fraldas a roupa de criança e de adultas, tudo se foi arranjando. E mesmo dinheiro, já entregámos 200€...
Nesta foto estão as últimas aquisições, que o volume maior já seguiu ontem.
Tudo conseguido junto de familiares e amigos. Como vêem, a guerra já cá chegou. E estas mulheres concretas bem precisam de sentir o que é o Dia Internacional da Mulher.
 
António Henriques