Os dias correm apressadamente na ânsia de tudo preparar para a grande festa de Natal. Queiramos ou não, todos somos apanhados na enxurrada das compras, das limpezas, dos presentes, porque naquele dia queremos todos fazer boa figura, receber bem as visitas, oferecer-lhes o melhor, não por vaidade, mas sobretudo por íntimos sonhos de ver todos agradados e irmanados nos valores da família em comunhão.
Para que o
blogue vos apresente alguma novidade, ainda encontrei uns momentos para
escrever sobre as palavras que mais me fizeram pensar nos tempos que correm.
Vamos lá!
Tem sido
tema de conversa a palavra “húbris”,
que alguém utilizou num contexto político-social especial, criticando
sentimentos visíveis numa entrevista em que se usam palavras nada lisonjeiras
para adversários políticos.
Húbris é daquelas palavras inusuais,
estranhas, que não aparecem na linguagem comum. Eu não a conhecia e o grande
dicionário Lello, de 1980, também não a conhece. Mas, pelos vistos, existe e o
Dicionário online Priberam dá-lhe este significado: “Orgulho excessivo. =
ARROGÂNCIA, INSOLÊNCIA, SOBERBA”. Confesso que estes sentimentos não são
apropriados a um político sensato, mas foi com eles que o crítico apodou o sr.
político. Não sei se se vai realizar o que premonitoriamente a Infopédia
(Dicionário Porto Editora) diz: « … um desafio aos deuses e que acarreta a
ruína de quem assim age».
Em sentido
contrário, surge o antónimo de húbris - "sofrósina", outra
palavra que foge ao léxico corrente, que também não consta do Lello Universal.
Estas duas palavras são translação direta do grego. Para este antónimo, o
Dicionário Priberam apresenta este significado: “Qualidade do que é prudente,
comedido, moderado ou sensato. = MODERAÇÃO, PRUDÊNCIA, SENSATEZ”.
Estas, sim,
são palavras adequadas à quadra natalícia e não só! Todos devíamos ter a
humildade suficiente para dosear a crítica ao nível dos semelhantes, sabendo
que todos têm direito ao nome e à participação pública. É assim que se começa o
caminho para as ditaduras, que são situações com que nos vemos confrontados,
sobretudo ao olharmos para o que a Federação Russa está a fazer à Ucrânia, que
também nos atinge por ricochete.
E cá vem
agora outra palavra dos nossos dias – a
PAZ! Vou citar o Padre António Vieira, um clássico que vale a pena:
«Não Há Paz
no Mundo
Enchem a boca de paz, e não há tal paz no
mundo. E senão, quem há tão cego, que não veja o mesmo hoje em toda a parte?
Dizem que há paz nos reinos, e os vassalos não obedecem aos reis: dizem que há
paz nas cidades, e os súbditos não obedecem aos magistrados: dizem que há paz
nas famílias, e os filhos não obedecem aos pais: dizem que há paz nos
particulares, e cada um tem dentro em si mesmo a maior e a pior guerra. Havia
de mandar a razão, e o racional não lhe obedece; porque nele, e sobre ela
domina o apetite. (...) A paz do mundo é guerra que se esconde debaixo da paz.
Chama-se paz e é lisonja: chama-se paz, e é dissimulação: chama-se paz, e é
dependência: chama-se paz, e é mentira, quando não seja traição.»
Padre
António Vieira, in "Sermões"
Digamos, para concluir, que não é a ausência de guerra a verdadeira paz. Esta requer a
humildade, a aceitação do outro, a colaboração, o diálogo entre iguais, o respeito pelos direitos dos outros… E ainda há poucos dias eu ouvia o P. Bento Domingues sugerir que o melhor para vivermos em paz é cada um perguntar “o que posso fazer pelos outros?”.
A todos os
meus leitores, um Feliz Natal.
António
Henriques