domingo, 9 de outubro de 2016

DESTINO, FADO, SORTE?

1 - O Ricardo Reis, da estirpe de Fernando Pessoa

Com Fernando Pessoa no Chiado, Lisboa

Gosto de ler Fernando Pessoa! Mesmo que não concorde com ele nas expressões que coloca nos seus filhos, como é o caso de Ricardo Reis, que o "Expresso" me ofereceu este verão. E gosto sobretudo pela harmonia das frases, pelo ritmo poético que deslumbramos nos seus versos e até por algumas posturas firmes que se lêem na defesa de uma vida alegre, serena, calma, na contemplação das maravilhas da natureza.
Genericamente, este Ricardo Reis (li este verão o opúsculo "OBRA ESSENCIAL DE FERNANDO PESSOA - poesia de RICARDO REIS", edição Expresso) é um bom exemplo de uma corrente filosófica que já vem da Grécia de Epicuro e se prolongou para a Roma de Horácio e Séneca, ou, como diz o prefácio de Ana Luísa Amaral: «seguidor da cultura neoclássica, da filosofia epicurista e estóica, defensor da aurea mediocritas (dourada mediania), da justa medida, recorrendo a uma rigorosa versificação, a latinismos, a termos eruditos, à mitologia».
Não resisto a trazer para aqui estes excertos: 


«Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.» (pág.57)



E porque é que eu trago para aqui esta literatura?
A vida tem-me colocado em muito diversas situações e a conviver com mui diversas pessoas. Curiosamente, tenho encontrado gente que partilha desta filosofia e convive com ela com tanta naturalidade que me deixa surpreso.
Pessoas que atribuem uma força irresistível ao destino, que na literatura se traduz mais por fado. Aqueles que não se mexem à procura de soluções para os seus problemas, aqueles que atribuem aos deuses todos os seus êxitos e os seus fracassos, aqueles que consideram que já nascem "construídos" com as qualidades e defeitos provenientes do nascimento são também epicuristas... E aqueles que recorrem ao bruxo para ele se coligar com o destino e endireitar o nosso futuro? No fundo, parece que a nossa vida está sempre e só dependente do exterior, quer seja um exterior divino, sobrenatural, quer seja a sorte de ter encontrado boas oportunidades, boas pessoas que nos deram a mão...

Eu tenho outra visão da vida, uma visão que fui construindo ao longo do tempo e com o auxílio de muita experiência e reflexão individual e em conjunto com gente que acha que vale a pena parar e reflectir sobre a vida, sobre os acontecimentos. Brevemente voltarei a esta outra concepção da vida, que o texto já vai longo. 
Passem bem e até à próxima.


Epicuro, filósofo grego

Horácio, poeta romano

Séneca, filósofo romano


 

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