Já
 aqui expus as maiores impressões que me causaram a visita guiada à 
Igreja da Madre de Deus, ali em Xabregas. E, ao lado, encontra-se o 
Museu do Azulejo, um museu didáctico a que muitos recorrem para apreciar
 a rica azulejaria portuguesa, que um dia também abordarei.
Hoje,
 apetece-me falar mais do Coro, um espaço sobranceiro à Igreja, 
reservado, onde as clarissas assistiam à Missa e rezavam o Ofício 
Divino. Continua a impressionar a riqueza e mesmo a excrescência da 
talha dourada e ainda o número elevado de pinturas que adornam o espaço.
 É o barroco em todo o seu esplendor (vide foto).

1
 - As monjas ocupavam cada uma o seu lugar, que se caracterizava por ter
 um assento articulado, que se levantava para que a ocupante pudesse 
estar de pé no mesmo lugar. Ao levantar o assento, este tinha uma 
pequena tábua colada na horizontal que permitia que a freira pudesse 
descansar, embora parecesse que estava de pé. E o cadeiral tinha ainda 
dois braços laterais em que se podiam apoiar os cotovelos. Tudo para que
 o muito tempo que as freiras passavam em oração não fosse demasiado 
incómodo.
Mas
 eu notei que o guia, ao mostrar como aquilo funcionava, ficava com os 
braços muito acima do encosto. Para ele, os braços do cadeiral eram 
baixos. Pudera! Passaram dois séculos e as pessoas são cada vez mais 
altas!...
2
 - Ao centro, em cima de um tapete, podemos ver uma estante de coro, 
necessária para se cantar com o livro à distância, que era coisa que não
 abundava ao tempo. Não vejo que fosse fácil esta leitura àquela 
distância, embora os livros do tempo tivessem grandes medidas, mais que 
meio-metro de altura!

3
 – Muito gostam os nobres de conviver com as freiras, não... queria 
dizer com os santos, para que o seu nome e a sua efígie perdurassem no 
tempo e na eternidade. Ao fundo, do lado esquerdo, lá se encontra uma 
pintura com o Rei D. João V ao lado de S. João Batista e, do lado 
direito da foto, a imagem de D. Leonor com a S. Clara de Assis.
4
 – Durante a visita, alguém chamou a atenção para a nudez do altar-mor, 
que se pode ver noutra foto. Sem os arrebiques do barroco, é constituído
 apenas por pedras de duas cores e formas simples. Há explicação? Claro:
 aquelas pedras nuas eram revestidas por belos frontais de altar, muitas
 vezes de tecidos caros, brocados de seda entretecida de ouro ou prata, 
até com relevos... À falta deles, ou por moda do tempo, usavam-se ricas 
peças de azulejaria, como podemos admirar esta no Museu do Azulejo.
Foram notas soltas, impressões de uma visita, que podem interessar a alguém.
António Henriques
NOTA: Por
 cima da abertura que, no coro, permitia a visibilidade do altar-mor, há
 um quadro gritantemente ornamentado, de louvor ao SS. Sacramento. Podem
 observar melhor a foto, assim como ver mais uma vez a imagem do corpo e
 da capela-mor da Igreja. Acrescento ainda um frontal de altar em 
azulejo, com notórias influências orientais.




























