sexta-feira, 4 de agosto de 2017

AS MINHAS LEITURAS


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 “VIA CRUCIS” – Francisco, um Papa em perigo no seio do Vaticano
Autor: GianLuigi Nuzzi
Bertrand Editora

Acabei de ler há pouco este livro, que me deixou apreensivo, não tanto pelos dizeres da capa e mais pelo seu conteúdo. Habituado a pensar que na Igreja as pessoas, especialmente os dirigentes, estão ali para fazer boa figura, dar bom exemplo, viver de acordo com a ética cristã, esta descrição de muitos acontecimentos dentro do Vaticano e na Cúria Romana levam-me a pensar que pode haver lobos dentro do rebanho, que pode haver destacadas autoridades da hierarquia que se deixam levar pelo poder, pelo dinheiro, pelo luxo em vez do caminho da simplicidade e do serviço aos outros que era suposto seguirem.
Neste livro, o autor disserta sobre a luta que o Papa Francisco e alguns seus apaniguados travam para reformar a Igreja por dentro, nomeadamente a situação das finanças da Santa Sé, a que falta transparência e são dominadas por algumas pessoas que estão habituadas a práticas desonestas, a colaborar mesmo com os chefes da mafia, a desleixar a boa gestão do património e dos dinheiros que deviam ir para os pobres e para as verdadeiras necessidades da Igreja. Há quem defenda mesmo que a resignação de Bento XVI se deve sobretudo à sua incapacidade de dominar estes barões. O seu mordomo, Paulo Gabriele, foi condenado e perdeu emprego e casa por passar para o exterior informações confidenciais. O seu gesto é visto por outros como libertador.
Deixo apenas uns apontamentos:
1 – O autor teve acesso a documentos confidenciais, gravações de reuniões referentes à situação financeira do Vaticano, em que o Papa Francisco começou a trabalhar logo após o 13/03/2013. Francisco, numa reunião, chegou a dizer que no Vaticano «todos os custos estão fora de controle». A cada ano que passava, a situação piorava sobretudo com o aumento desmesurado do número de funcionários, a redução das receitas e a falta de uma gestão correcta das finanças.
2 – Um caso concreto é o que se passa com a “fábrica de santos” (!). Os milhares e milhões de euros que entram para custear as beatificações e canonizações não se sabe bem quem os recebe e como se gastam. Mas o fundo de reserva está baixo...
3 – Do Óbulo de S. Pedro, oferta anual dos fiéis ao Santo Padre, sabe-se o que se recebe, mas ninguém diz como se gasta, que obras de caridade são contempladas. E quando se sabe, como em 2012 com Bento XVI, metade dos 58 milhões ficaram na Cúria para cobrir despesas. Os pobres foram esquecidos. «Por cada euro que chega ao Santo Padre, apenas 20 cêntimos acabam em projectos concretos de ajuda aos pobres», diz Nuzzi.
4 – As duas grandes entidades bancárias do Vaticano, o IOR (Instituto de Obras Religiosas) e a APSA (Administração do Património da Sé Apostólica) há muitos anos que estão manchadas por más práticas, branqueamento de capitais, balanços que não respeitam os procedimentos contabilísticos modernos e transparentes, deixando de fora milhões escondidos não registados, a que se acorre quando necessário. A APSA, que superintende sobre sobre o património mobiliário e imobiliário (ex. os milhões de títulos nos bancos), é acusada de desperdício, de não saber bem o que existe...
5 – Em Fevereiro de 2014, o Papa reuniu os assuntos económicos e administrativos num só Ministério, com uma Secretaria para a Economia, com o Cardeal George Pell, e um Conselho para a Economia (8 cardeais e 7 leigos) para racionalizar e ordenar uma casa cheia de buracos, centenas de instâncias detentoras de dinheiros em desgoverno...
Pouco a pouco, Francisco quer uma Igreja pobre para os pobres. Mas a tarefa continua longe de ser cumprida.
António Henriques
(A CONTINUAR)

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