Vivemos em cadeia
Até mesmo a minha fé só se explica nesta união ao grupo, à
comunidade, à multidão dos que aderem a um Cristo-Deus na história, coexistindo
com o mal, a ignorância, a doença, mas tentando melhorar as coisas… Posso não
ser muito bom cristão, mas este sentido de pertença ao grupo dos crentes não se
esvai, está cada vez mais vivo e alegra-me. Se calhar, para mim é mais fácil
falar de Deus do que falar com Deus! Mas esta noção de que pertenço ao grupo já
me ilumina os passos.
Há pouco tempo, dei comigo a pensar no lugar que cada um de
nós ocupa nesta existência terrestre de que tanto gostamos, dizem uns, e de que
outros se queixam tanto. Até se atribuem culpas a Deus pelas mais turbulentas
situações, desde a miséria, a doença, o sofrimento das crianças, a morte, etc.
Sou daqueles que não sou capaz de dizer, perante uma morte,
que “foi Deus que o levou”, porque eu não tenho de Deus a ideia de coveiro, de
bombeiro, de facilitador do bem para uns e amaldiçoador de outros. A nossa
natureza de mortais, sujeitos à condição de passagem contingente por aqui, carregados
de falibilidades, e muitas delas dependentes de nós próprios (o nosso estilo de
vida, as relações sociais, os hábitos alimentares…), para mim são justificações
mais reais daquilo que nos acontece.
E como me situo eu perante as adversidades? Aqui, sigo um
pouco a teoria de Piaget, que fala de assimilação e acomodação no processo de
crescimento da pessoa, em vista do que ele chama a equilibração. Na prática,
procuro assimilar o acontecimento com alguma distância, digerir o seu valor
real na minha vida, compreender o seu significado. Depois, tento acomodar-me,
sempre com sofrimento ou algum sacrifício, envolvendo-me com as circunstâncias para
melhorar a minha compreensão e sentido de vida.
Se o meu conhecimento cresce, as minhas acções e opções de vida também se vão alterando. Falo de ciência? Não, falo de mais do que de ciência. Falo dum sentir interior global que me dá a percepção do mundo vasto e grandioso que nos rodeia e vive em cada um e que a ciência não consegue explicar (o amor, a energia psicológica, a beleza, a religião).
Se o meu conhecimento cresce, as minhas acções e opções de vida também se vão alterando. Falo de ciência? Não, falo de mais do que de ciência. Falo dum sentir interior global que me dá a percepção do mundo vasto e grandioso que nos rodeia e vive em cada um e que a ciência não consegue explicar (o amor, a energia psicológica, a beleza, a religião).
Vida sempre em renovação... |
Perante a morte, há muito que sei que sou um pó, uma areia
do universo, ou melhor, um elo de uma cadeia sem fim, que vem de geração em
geração, não só no sentido biológico, mas também na esfera do conhecimento, do
saber e sentir espiritual, que me dá a noção de pertença a uma humanidade que
evolui e se enriquece. Em vez de me isolar, sinto-me unido aos outros,
imaginando-me integrado num movimento ascendente de uma humanidade a caminho da
perfeição no amor, na justiça, na equilibração total. Ajudar alguém a crescer,
a ver melhor a situação numa aula ou num encontro dá cá um sabor interior tão
luminoso!...
Em cadeia e em sentido ascendente... |
Teilhard du Chardin falava do sentido ascendente de todo o
universo para a divinização (“Le milieu divin”), melhor dito, para a
cristificação. É por aí que eu também
gosto de reflectir.
Sem comentários:
Enviar um comentário