Ora aqui está um título bem sugestivo
para uma incursão pelo mundo oposto ao que tu vives, saboreias ou detestas no
teu respirar quotidiano!
Andamos tão imersos em compromissos,
actividades, visitas, preocupações, que nos enchem as horas da existência que não
costumamos parar para viver outro estilo de vida…
Ainda bem que alguém nos ofereceu um “voucher”
de fim de semana para vivermos umas horas diferentes! A escolha é nossa e por
aí fora há muito lugar bonito onde prender a atenção, para viver horas sem “preocupação”.
Outros já o fizeram, coube-nos agora a nós…
Das muitas hipóteses, escolhemos a
menos óbvia! Em vez de visitar terras, museus e monumentos, para emergir do
nosso quotidiano decidimos mergulhar no silêncio e no deserto de Fátima, onde
não quisemos ter obrigações…. Apenas andar por ali rezando, olhando o ambiente,
lendo um pouquinho de um livro que levámos, associando-nos ainda a alguns actos
colectivos que nos apanhavam quase sem querer. É um «dolce far niente» a roçar
o invisível, o espiritual, a sentir as emoções de tantos que ali também sentem
a presença do sagrado, por mais que se tente e não se consiga descrever o que
nos atrai.
Rezámos? Sim, embora eu não saiba bem
o que é rezar. Falar com Deus não é bem a mesma coisa que falar com a esposa
que me acompanha. Com ela também há horas de silêncio que são boas e que nos
enriquecem. Talvez sejam apenas estes silêncios que nos ligam ao Deus em que
acreditamos. Sentir-me imerso num ambiente espiritual, religioso, como se
estivesse num mergulho profundo de uma piscina, foi isso que fizemos. Ao rezar
o terço, ao andarmos pelos vários locais que rememoram todo o fenómeno de
Fátima, aconteceu lembrar-me (-nos) de muitos familiares, de muitos amigos que
há muito nem me vinham à lembrança. Foi na Cova da Iria e foi nos Valinhos.
Quase que ultrapassámos toda aquela parafernália comercial, a prender a atenção
dos “peregrinos”, também necessária para as prendas que temos de levar(!?), e
apenas olhámos para o mais significativo.
Ponto de paragem obrigatória, a Capelinha
das Aparições. As velas eléctricas que acendemos até se multiplicaram para além
do que nós depositámos, milagre de bênção inesperada… A oração individual,
mesmo assim, irmana-nos a tantos que ali estão presentes, num acto de fé
colectiva (estamos a sentir-nos todos numa mesma crença e a olhar para a mesma
Virgem-Mãe e para o mesmo Deus) e irmana-nos aos ausentes que, mortos ou vivos,
nos vêm à memória.
O mesmo ou diferente sentimos na Basílica
da Santíssima Trindade. Naquele silêncio forte, mesmo aterrador quando entrámos
naquele ambiente tão espaçoso, tão rico, tão esplendoroso e quase só para nós…
Não passou meia hora quando começámos
a ver aproximar-se uma corrente contínua de gente. Que se passa? No horário
oficial, não constava nenhum acto religioso. Como eu ando tão afastado destas
coisas!… Era o primeiro sábado do mês, que atrai a Fátima uma chusma de crentes
para a confissão, a missa e a adoração do Santíssimo Sacramento. E também nos
integrámos nesta celebração, porque não?
Já à noite, na visita à Basílica de
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, nova enchente para a celebração
eucarística, seguida da visita aos túmulos dos santos Jacinta e Francisco. O
órgão, ali, abafava as vozes, ao contrário do da outra basílica.
Ainda nos irmanámos com a natureza e
o espiritual nos Valinhos, onde vivemos a simplicidade e a coragem interior
destas três crianças, que aderem a Deus e à Virgem contra todas as
perseguições. São muito convidativas aquelas frases dos pastorinhos difundidas
pelo caminho.
Saímos para parar… É o descanso físico e é um encher de ideias a convidar-nos ao essencial,
para vivermos o dia-a-dia desprendidos de tantos acessórios. Quase sem querer,
outros propósitos nos invadem, mais humanos, mais espirituais.
Foi mesmo bom!
António Henriques
Parabéns António Henriques. Partilhastes um belo momento sempre digno de se ver e contemplar, és um reporter profissional. O artigo está como seria de esperar e que já nos habituaste, agora vamos lá destacar o célebre video com documentário em tempo real. Obrigado pelo teu excelente trabalho.
ResponderEliminarObrigado, Luísa, pelo teu comentário. Fico contente por alguém se irmanar às minhas palavras. AH
EliminarEstavas inspirado! Parabéns, gostei mesmo...
ResponderEliminarObrigadinho! Beijinhos.
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