Olha o meu caderno de apontamentos como está esquecido!...
Isto é um modo de pensar errado, pois sabes muito bem que
todos os dias penso em ti. Só que, por vezes, a vida não estica o suficiente
para poder chegar até ao caderno... Mas nem é bem isto. As razões ainda são
outras: escrever neste caderninho obriga-me a concentrar-me, a pensar mais
fundo, fugir do rebuliço do dia-a-dia em que andamos enredados...
E ainda há semanas em que os afazeres diários são ainda
sobrecarregados com outros afazeres. E para umas coisas andarem, outras ficam
paradas...
Como diz a Prazeres, «desde que vieste da Madeira, nada mais
aconteceu...». Qual quê! Aconteceram muitas coisas... O António não pára ainda.
A vida continua a chamar por mim, quer nas acções em que sou o primeiro
beneficiado, quer quando são os outros que beneficiam dos meus préstimos.
Este blogue pára quando a vida em família me obriga a gastar
o tempo nas trivialidades necessárias para o decurso normal dos dias. Também
fica parado quando não posso voltar-me para dentro, reflectir, reunir ideias
com algum interesse público. E desta vez, já está parado há um mês...
Hoje apeteceu-me dizer umas coisas. Sobretudo, celebrar a
Vida! E há razões para isso...
No ciclo do tempo, acabamos de celebrar a passagem da morte
para a ressurreição de Cristo e consequentemente também da nossa. Na curta
viagem pelo Cadaval, passeando entre vegetação ricamente florida, vieram-me
algumas vezes ao pensamento a maravilha da criação, o milagre anual da
primavera, a beleza do que estava a ver. E depois pensava: como é que tudo isto
acontece? Quem criou e quem coordena todo este mundo misterioso?
Li há dias que as pessoas pensam mais no mistério da morte,
do fim da vida, em vez de pensaram mais no princípio de tudo, em como tudo se
desenvolve a partir de simples sementes, naqueles momentos em que a
fragilidade, a inconsistência dos seres faz de todos eles uns entes
dependentes, longe de toda aquela energia e jactância pessoal que mais tarde
apregoamos. Estou a pensar mais em quem diz que é senhor da sua vida, que faz
dela o que quiser e até é livre para acabar com ela. É um absurdo passar-se a
proprietário de um dom que gratuitamente lhe foi doado. Devemos antes sentir-nos
agradecidos e gerir os dias de modo a deixarmos um rasto de beleza e bondade...
Outro pensamento que me tem dominado é esta realidade histórico-religiosa
da última semana, em que um Cristo, Homem-Deus, depois de deixar aos discípulos
uma mensagem de vida que perturbou o pensamento dominante e valorou o amor dos
outros, a vida simples e verdadeira em consciência, é arrastado para a
condenação à morte por pressão dos poderes dominantes da época.
Na liturgia da festa da Páscoa, as leituras da noite chegam
a dizer algo que dá para pensar: mais maravilhoso que o milagre da criação é o
milagre da morte e ressurreição de Cristo. Em que penso eu quando refiro esta
ideia?
- Penso na maravilha da presença de Deus no meio de nós e na
força espiritual que Ele iniciou há dois mil anos. Penso na iluminação sobre as
nossas vidas que Jesus nos ofereceu com os acontecimentos da Páscoa e também na
perspectiva de vida que a sua doutrina nos oferece. Penso ainda na fragilidade
inicial com que começou este movimento comunitário (discípulos a renegar o
mestre, sem entenderem os acontecimentos, o que me diz que, se a Igreja não é
sobretudo obra de Deus, não tem justificação humana toda esta vivência actual
que arrasta milhões no mundo inteiro. E se a Igreja tem muito de errado, mais
ela mostra de belo e luminoso a partir do seu pastor maior, o Papa Francisco.
Sem ti, Senhor, para onde podemos ir?
António Henriques
Adorei a reflexão, como sempre foste fantástico.
ResponderEliminarE como se mantém uma instituição 2 000 anos se o seu mentor não for um ser eterno?
Esta Primavera está inspiradora com muito vigor. A prova é o teu post .Que Deus lhe conserve este vigor de modo que gere muitos e bons frutos.