Há verdades alternativas?
Que melhor aconchego para os ninhos das gaivotas? |
Tenho andado há uns tempos intrigado com o que ouço e leio acerca dos sistemas de comunicação entre pessoas e países, que parece que, em vez de nos transmitirem o que aconteceu de verdade, nos impingem modos de ver “alternativos” a que chamam também “a verdade” e nos deixam sem saber em quem e em quê acreditar.
Eu sei que as emoções influenciam
o nosso pensamento, segundo António Damásio, e que os nossos modos de pensar
não são tão assépticos como gostaríamos que fossem. É mais fácil acreditar
naquilo de que gostamos do que no inverso. Mas, mesmo assim, ainda pensava que
as ideias podiam circular sem estarem viciadas por interesses ou conveniências.
Fala-se assim na era da
pós-verdade, um chavão que contém muita perversidade. Há muitos anos já,
habituei-me a verificar que até a matemática não é exacta em política, isto é,
os números são interpretados de modos tão contraditórios que não dá para
imaginar até onde pode ir a imaginação humana. O mesmo acontece noutros campos
sociais, por ex. no desporto, em que os programas dos comentadores desportivos
mostram bem como as imagens são interpretadas de acordo com os gostos
clubistas, o que já me fez arrefecer bastante aquela sensação de pertença a um
clube, dadas as muitas falcatruas que andam misturadas com o verdadeiro
desporto.
Eu não queria afastar-me muito do
essencial, para mim muito confuso e doloroso, que é dizer, como há dias
escrevia um amigo meu: “nos tempos da pós – verdade, podemos afirmar, cada vez
com mais certeza, que a verdade se transmuta consoante o interesse do emissor”.
E assim, volta outra vez a pergunta de Pilatos a Jesus Cristo: «o que é a
verdade?»
Das minhas leituras fez parte há
uns meses o bem conhecido filósofo Edgar Morin e o seu livro: “As grandes
questões do nosso tempo” (Edit. Notícias). Também ele nos repete: «Os nossos
sistemas mentais filtram a informação: ignoramos, censuramos, repudiamos e
desintegramos o que não queremos saber… Quase poderia formular esta lei psicossocial:
uma convicção bem firme destrói a informação que a desmente». Ele chega a
afirmar que a ideologia “é um sistema de ideias feito para controlar, acolher e
recusar a informação. Se a ideologia é teoria,
está em princípio aberta à informação não conforme, que a pode pôr em causa. Se
é doutrina, está em princípio fechada
a qualquer informação não conforme. A ideologia política é muito mais doutrina
que teoria»(pág. 30).
Vigilância em companhia, a melhor solução. |
António Henriques
Livre para voar, seguro para aterrar, forte para lutar. |
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