2 - Fado, não!
Volto hoje ao tema do
texto de 9 de Outubro, em que eu discordava de uma postura de vida que tudo
fazia depender do destino.
Para ser sincero, aceito que a nossa história está marcada
com o que chamamos carga genética, que herdamos dos nossos pais. Não são apenas
os dotes físicos, que aí as coisas estão já bem estudadas pelas leis de Mendel.
O mesmo posso dizer da propensão para certos comportamentos, doenças, ou mesmo
a maior ou menor facilidade em nos adaptarmos às regras de convivência social.
Vemos crianças muito diferentes na sua relação com o ambiente circundante e não
vamos dizer que tudo é resultado de aprendizagem ou cópia de atitudes que se
vêem.... Muito vem de trás.
Mas, ao lado destas evidências, há outras evidências maiores.
E é delas que eu gosto de falar. Ao olhar para o mundo em que nos inserimos,
cheio de maravilhas que admiramos, repleto de avanços em relação a tempos
passados, o sentimento que mais me domina é de admiração, de encantamento
perante a capacidade da mente humana, que cada vez vai mais longe na distância
e mais penetrante dentro de si própria.
É para este fruto do espírito humano que devemos olhar,
sabendo que tudo foi resultado da aplicação dos homens em atingir novos e mais
altos objectivos. Muito está a ser feito diariamente para que a sociedade viva
sem sobressalto, o que se consegue por uma larga e universal cooperação entre
as pessoas.
E eu? Em que
lugar me vou situar neste emaranhado de vidas, de ocupações, de passatempos com
que nos cruzamos diariamente? Aqui é que está a questão maior, ou, como diziam
os latinos, “hoc opus hic labor est” (aqui é que a obra dá trabalho, em versão
livre!)…
E cá vem outra vez a palavra VIDA! Ela pode ser um património a aproveitar e desenvolver ou uma
riqueza a dilapidar. É uma alternativa com saída dependente apenas da nossa
liberdade. Sim, que nós somos livres… Por contraste, lembro-me outra vez do
Ricardo Reis (criado por Fernando Pessoa) (ibidem, pág. 70) que acha que «nada é prémio: sucede o que acontece», numa subjugação total ao
destino, ou, nas suas palavras, «uns faz
altos a sorte, outros felizes», rematando o discurso com uma pungente
resignação: «Nada, Lídia, devemos ao
fado, senão tê-lo».
Ora, ao contrário, eu penso que o mundo está repleto de energia
e muita gente empurra o progresso para a frente pelo seu empenho na renovação
de mentalidades e no melhoramento do mundo e das relações humanas. Não somos
passarinhos, que todos os dias fazem a mesma coisa, numa procura incessante de
comida para si e seus filhotes. Até estes são exemplo para as pessoas que
desistiram… Assim como nos ensinam as árvores, que anualmente se renovam, como
esta magnólia a oferecer-nos a beleza das suas flores. Magnólia, que eu tanto
admiro desde a escola primária, em frente da qual ainda hoje paro para a saudar…
E obrigado por me lerem…
Gostei e gosto de ler este Diário.Espero por mais...Obrigada.
ResponderEliminarAdorei.Também eu sou apenas o fruto das minhas escolhas. Fico ansiosa por mais...Obrigada
ResponderEliminarSim, prometo continuar as minhas considerações, fruto das muitas reflexões individuais e em grupo. Agradeço o interesse pela leitura.
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